Moradores de assentamento em São Mateus cobram ações contra queimadas
Após incêndio em floresta, comunidade se reuniu com a Defesa Civil para traçar ações
Os moradores do assentamento Sezínio, em São Mateus, norte do Espírito Santo, cobram do poder público iniciativas para prevenção de queimadas na floresta que abrange esse território e a Fazenda Três Marias. O estopim para a reivindicação foi o incêndio que começou nessa sexta-feira (27) e encerrou na madrugada deste domingo (29) para segunda-feira (30) devido às chuvas. A primeira iniciativa para o trabalho de prevenção ocorreu nesta manhã, com uma reunião entre os representantes do assentamento e a Defesa Civil.
Uma das decisões tomadas durante a reunião, segundo a moradora do Sezínio, Geísa Carvalho, foi a construção de aceiros, que é uma estrada em volta da mata para separar a floresta do capim, que fica próximo à estrada e, portanto, mais propenso a incêndios. Geísa aponta que não se sabe qual foi a causa da queimada que teve início no final da semana passada, mas que em outros momentos, já aconteceu por causa de quedas de fio da empresa EDP, que, inclusive, já causou a morte de uma pessoa, que foi eletrocutada.
Outra decisão tomada foi a realização de atividades educativas com moradores do assentamento no sentido de prevenir queimadas e saber apagar focos de incêndio, inclusive com disponibilização de instrumentos como abafador e pulverizador. Essa questão educativa é reivindicada não somente para o Sezínio, mas para todo o Estado, já que as queimadas têm acontecido em várias localidades.
Os assentados também querem que medidas sejam tomadas diante do problema de quedas de fios da EDP. Geísa informa que a reunião desta segunda foi para discutir as ações necessárias. Uma nova será marcada, possivelmente na semana que vem, para debater como implementar essas atividades.
Geísa relata que, por causa do incêndio, o Corpo de Bombeiros foi acionado, mas alegou dificuldades por ser tratar de uma mata extensa, fechada, havendo necessidade de uma intervenção aérea, por meio de uma brigada com helicóptero. Foram, então, acionados o subsecretário de estadual de Agricultura Familiar, Rogério Favoretti; e a presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Penha Lopes; mas não foi preciso que a brigada intervisse devido às chuvas.
A moradora do assentamento relata que o incêndio matou animais e árvores centenárias da região. “Os animais ficaram desesperados. Principalmente os que têm filhote, não conseguem correr”, diz. Ela aponta que uma das preocupações dos moradores diante de possíveis novas queimadas é a escassez de recursos hídricos, já que na região tem três lagoas e um poço artesiano. Com a redução das árvores, afirma, em vez de penetrar no solo, a água da chuva vai descer até o rio carregando terra e, assim, causar assoreamento.
Geísa destaca também que a preservação ambiental vai ao encontro de um dos princípios do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que é a agroecologia. “Temos um cuidado muito grande com o meio ambiente, um respeito aos animais, às arvores. A gente precisa entender que não está sozinho no planeta, que todo ser vivo deve ser respeitado””, defende.
De dois meses para cá, as queimadas têm se intensificado no Espírito Santo. Segundo o governo, mais de 5 mil hectares já foram atingidos, o que se torna ainda mais grave diante da estiagem que atinge 71 municípios capixabas. Um dos locais afetados foi o Monumento Natural Estadual o Frade e a Freira (Monaff), em Cachoeiro de Itapemirim, no sul.